Esporte: instrumento chave de uma política pública centrada no social
Impacto das ONGs

Por Wenceslau Madeira
Um dos motivos pelos quais o esporte me encanta é seu potencial de despertar paixões. Não me refiro somente ao sentimento das torcidas nos estádios de futebol pelo Brasil, onde o fascínio pelo campo e a bola percorre gerações. Mas sobre a capacidade de transformar realidades em um país de dimensões continentais, com a oferta de saúde e de conexões valiosas entre seres humanos.
Temos perdido, nas últimas décadas, a oportunidade de priorizar o esporte como instrumento chave de uma política pública centrada no social, apesar dos incontáveis e inspiradores feitos de nossos atletas de elite nas mais diversas modalidades.
Quando pensamos em iniciativas que não tenham como finalidade o alto rendimento, existe uma lacuna enorme no Brasil, mesmo com todas as evidências dos benefícios do esporte para a sociedade. Mas existe, sim, um trabalho a ser realizado que gerará frutos.
Ações como as que realizamos na De Peito Aberto em mais de 19 anos de história, com aulas gratuitas em espaços públicos, adaptadas a cada faixa etária, e a entrega de materiais de qualidade para o incentivo à prática esportiva, vêm transformando vidas em comunidades locais. Iniciativas assim revelam a importância do esforço de mobilização do terceiro setor.
O propósito da De Peito Aberto está enraizado na qualidade das aulas, materiais e formatação pedagógica, e, consequentemente, na melhoria da qualidade de vida de seus beneficiários. Começamos com um sonho modesto em uma sala de reuniões de uma academia, onde eu trabalhava com uma contadora, um advogado e alguns voluntários. E crescemos, de acordo com os estímulos que recebemos e das oportunidades que surgiram.
Em toda nossa história, nos orgulhamos de ter impactado positivamente a vida de 65 mil crianças e adolescentes em diversos cantos do Brasil.
O Brasil conquistou um crescimento, ainda que menor do que o que desejávamos, no desporto educacional e na ampliação do esporte em comunidades em vulnerabilidade, graças ao terceiro setor. Por meio das Leis de Incentivo, o esporte tem conseguido alavancar os projetos de cunho social e contínuos, país afora. Em 2024, foram 6.664 projetos apresentados, dos quais 3.506 pertencem à categoria educacional, beneficiando mais de 1 milhão de pessoas até o início de dezembro. Mas ainda é preciso muito mais.
As secretarias de educação e saúde, bem como os Ministérios da Educação e da Saúde, não dialogam entre si e estão longe de participarem de um planejamento esportivo brasileiro. O esporte, que deveria estar incluso continuamente no debate, é um segmento segregado. E as escolas, que deveriam ser o maior campo de incentivo ao esporte, carecem de estrutura.
Necessitamos, enquanto uma nação apaixonada por esportes, de uma política pública específica para o segmento. Os Jogos Escolares são um exemplo de evolução, mas não há qualquer incentivo para que o desporto escolar se fortaleça, a não ser para a participação em competições do tipo.
A educação aliada ao esporte é uma forma de construir pontes para um futuro mais inclusivo e sustentável. Fica a esperança de que o esforço e a paixão daqueles que se dedicam a promover o esporte educacional no Brasil sejam reconhecidos e ados para as próximas gerações.
*A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião do Observatório do Terceiro Setor
Sobre o autor: Wenceslau Madeira é fundador e atual Diretor Presidente da Peito Aberto (DPA), organização social criada com o objetivo de contribuir para o esporte, a educação, a saúde e a cultura. Como treinador e professor de natação, tem agens por diferentes clubes, entre eles o Swimming Nature Swimming School, de Londres (Inglaterra). É formado em Gestão Pública pela UNIBH, especialista em natação pelo Institute of Swimming Teaching and Coaching e possui MBA em ESG (IBMEC).