Emprego remoto é oportunidade para vulnerabilizados ingressarem em TI

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Imagem: Adobe Stock.

Por Ana Letícia Lucca

O debate sobre os modelos de trabalho híbrido, remoto e presencial continua. Após algum tempo sem a pandemia do Coronavírus, se formam as novas organizações de trabalho, com a tendência de empregadores desejarem que os funcionários trabalhem mais dias na empresa e os colaboradores idealizarem ficar mais dias em casa. Segundo a pesquisa Sondagem do Mercado de Trabalho, da FGV IBRE, o que vem sendo adotado pelas organizações é o trabalho híbrido, com uma média de 3 dias em casa e 2 no escritório. Porém, para as pessoas em situação de vulnerabilidade socioeconômica, o trabalho remoto pode ser a oportunidade real de conseguir emprego enquanto é possível conciliá-lo com as responsabilidades pessoais, com os afazeres domésticos e o trabalho do cuidado.

Também de acordo com a pesquisa da FGV IBRE, o principal benefício do trabalho remoto é a oportunidade de obter horários flexíveis (43,6%), seguido do aumento do bem-estar e da qualidade de vida (28,5%) e da possibilidade de não perder tempo com deslocamentos (15,8%). Para quem vive em comunidades desfavorecidas, trabalhar em casa também pode significar ter menos custos com alimentação em restaurantes, pois algumas empresas não oferecem benefícios como vale-alimentação ou refeição, por exemplo, e também não se preocupar com vestuário formal, o que demandaria mais investimentos.

Além disso, o home office, principalmente para o setor de Tecnologia da Informação, no qual eu estou inserida, permite que pessoas de regiões de fora dos grandes centros tenham o a vagas restritas a locais como Rio de Janeiro e São Paulo. Isso amplia o leque de oportunidades de emprego e remove barreiras físicas e geográficas, em especial para quem vive em áreas rurais ou periféricas, onde as oportunidades de trabalho são mais escassas. Atualmente, a região Sudeste é a que apresenta maior quantidade de pessoas trabalhando em casa, com 11,9% de empregados, número inclusive maior que a média nacional, que atinge 9,6%. Nas outras regiões do país, o número cai: 8,6% para o Sul; 8,4% para o CentroOeste; 7,1% para o Nordeste e 6,2% para o Norte, de acordo com a FGV IBRE.

Neste cenário, existem algumas questões primordiais a serem discutidas no que diz respeito à inclusão digital. A primeira é a necessidade contínua da manutenção e criação de políticas públicas que incentivem a expansão do o à internet em regiões afastadas dos centros. Isso é fundamental para que o home office possa ser uma ferramenta verdadeiramente inclusiva e ível, independentemente de onde uma pessoa more. Além disso, é essencial que as empresas e a sociedade como um todo reconheçam o valor que a diversidade geográfica e socioeconômica de um indivíduo traz para o ambiente de trabalho, por exemplo, quando falamos de inovação ou novas perspectivas de negócio, de pontos de vista e pensamentos.

As empresas também têm papel crucial em promover o o às tecnologias de trabalho aos mais desfavorecidos, oferecendo programas de capacitação, fornecendo equipamentos para um trabalho confortável e investindo em infraestrutura tecnológica. É preciso que elas saibam que, ao adotar políticas de trabalho remoto inclusivas, podem abrir novas oportunidades para populações em situação de vulnerabilidade, garantindo que essas pessoas tenham e contínuo para superar os desafios do trabalho e da vida.

A Escola da Nuvem, organização social sem fins lucrativos que busca formar, certificar e empregar pessoas em situação de vulnerabilidade social para carreiras em computação em nuvem, pode ajudar as companhias com isso. Nós estabelecemos parcerias com empresas de tecnologia e outras indústrias para identificar e criar oportunidades de trabalho remoto para os formandos. Isso inclui mentoria e apoio na inserção dos alunos no mercado de trabalho, para que esse processo seja inclusivo e benéfico tanto para eles quanto para as empresas. Essas parcerias também permitem que as organizações se envolvam diretamente na formação dos alunos, garantindo que eles adquiram as habilidades necessárias para atender às demandas do mercado. Investir em organizações sociais e iniciativas como essa pode ser um primeiro o para a melhor inclusão no mercado de trabalho, principalmente quando falamos do setor de Tecnologia da Informação.

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*A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião do Observatório do Terceiro Setor.

Ana Letícia Lucca

Ana Letícia Lucca é CRO da Escola da Nuvem. Também é Especialista em Gestão Estratégica de Carreira e possui certificação internacional em Coach pela Lambent.