Escuta solidária: Voluntários anônimos salvam vidas em todo Brasil

Cultura de Doação
Compartilhar

Como salvar vidas no 4º país mais estressado do mundo, líder de casos de burnout, registrando 30 internações por tentativa de suicídio diariamente? Conheça o trabalho do Centro de Valorização da Vida (CVV), iniciativa que reúne voluntários em todo o Brasil para atender pessoas em sofrimento.

Imagem ilustrativa | Adobe Stock.

Diariamente, o Brasil registra mais de 30 internações por tentativa de suicídio; em 2023, o SUS contabilizou 11.502 atendimentos por causas relacionadas a lesões com intenção deliberada de infligir dano a si mesmo. Os dados são da Associação Brasileira de Medicina de Emergência (Abramede), com possíveis subnotificações.

O boletim epidemiológico do Ministério da Saúde de 2024 aponta que na última década houve crescimento preocupante no número de tragédias; em 2021 houve mais de 15,5 mil casos, equivalente a uma morte a cada 34 minutos, posicionando o suicídio como a 27ª causa de morte no país e terceira maior causa entre a população jovem. A Organização Mundial da Saúde já declarou o suicídio como uma questão de saúde pública global, com mais de 700 mil mortes por ano.

A emergência para saúde mental do brasileiro é grande, e os voluntários do Centro de Valorização da Vida (CVV) sabem disso. Todos os dias, cerca de 8 mil chamadas são recebidas pela central telefônica 188, linha emergencial disponibilizada pelo Ministério da Saúde em função dos 62 anos de trabalho da organização para prevenção do suicídio de forma gratuita.

“As pessoas que nos procuram sentem-se muito sozinhas, precisando conversar, serem acolhidas, escutadas de maneira empática e com respeito. No CVV o voluntário procura criar um ambiente favorável para que a pessoa converse sobre seus incômodos, expressando seus sentimentos sem medo e de maneira anônima”, relata o voluntário da CVV, Carlos Correia. Segundo ele, o que pode ajudar neste primeiro momento é uma conversa acolhedora. “A prática tem mostrado que uma conversa sem julgamentos ou críticas pode reconectar a pessoa à vida”.

Estudos do Cidacs/Fiocruz, que associaram o aumento do número de suicídios com o aumento das desigualdades sociais, da pobreza e com o crescimento da prevalência de transtornos mentais. Em 2024, o Brasil caiu duas posições e está em 89 dos 193 países do ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), da Organização das Nações Unidas (ONU).

Voluntariado anônimo

Eles estão espalhados em diferentes estados, sempre usando nomes fictícios; a central de atendimento telefônico da CVV funciona 24 horas e possui diretrizes bem estabelecidas para manter o sigilo do atendimento – necessidade primária para as pessoas que procuram ajuda.

“O que me motivou ser voluntário foi ter a possibilidade de ajudar o próximo de maneira anônima. O anonimato é um convite ao altruísmo; o voluntário estará ajudando ao próximo abrindo mão do seu tempo sem mostrar o que está fazendo”, comenta Carlos.

O trabalho é realizado mediante a disponibilidade, os atendentes atuam no acolhimento das pessoas que procuram por apoio e capacitando novos voluntários. “Oferecemos cursos gratuitos de capacitação e seleção o ano inteiro a pessoas de qualquer parte do país e do exterior”, afirma Carlos.

Para iniciar o voluntariado, e o site da CVV e aguarde o retorno da equipe. Para inscrição é necessário ter mais de 18 anos de idade e participar de um curso de capacitação e seleção, que pode ser feito presencialmente ou online, de acordo com sua preferência e disponibilidade. Saiba mais aqui.

Preservação da vida como causa social

Somo o país com maior número de casos de Burnout, ficando atrás apenas do Japão. Ao lado da ansiedade e depressão, a síndrome do esgotamento profissional entrou, em 2023, para a Lista de Doenças Relacionadas ao Trabalho. O Brasil é o 4º país mais estressado do mundo, segundo o relatório global da Ipsos (World Mental Health Day 2024), que traz percepções e desafios relacionados aos sistemas de saúde do mundo, indicando que mais da metade dos brasileiros acreditam que a saúde mental é o maior problema de saúde do país.

Doando seu tempo, com atendimentos e treinamentos, o voluntariado engajado na causa de saúde mental contribui positivamente para a saúde e bem-estar da população brasileira, meta do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 3, na Agenda 2030 da ONU.

A ação solidária da CVV mobiliza mais de 3 mil voluntários, divididos em 95 postos físicos espalhados por todo o Brasil, além do atendimento de forma remota pelo telefone, chat e e-mail.

O Centro de Valorização da Vida (CVV) foi fundado em São Paulo em 1962, desde então prestando serviço voluntário gratuito de apoio emocional e prevenção do suicídio para todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo e anonimato. No site da organização também é possível contribuir com doações para ajudar na manutenção do serviço.