Uma lógica para medir os impactos da capacitação profissional

Impacto das ONGs
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Imagem: Adobe Stock

Por Lidia Maria Bufolo e Ana Karina Sousa

Iniciativas de capacitação profissional, para que adolescentes e jovens possam desenvolver competências e habilidades esperadas pelas empresas, são realizadas no Brasil há décadas por diversas organizações da sociedade civil. Mensurar a efetividade de tais programas, contudo, sempre representou um desafio pela falta de paradigmas, ou mesmo pela impropriedade da aplicação de provas e exames como os do sistema educacional em uma modalidade específica, geralmente de curta duração e subordinada ao Ministério do Trabalho e Emprego. Como, então, perscrutar os resultados das ações?

O Espro (Ensino Social Profissionalizante), associação filantrópica que há 45 anos se dedica à causa da inclusão produtiva, decidiu desenvolver uma lógica de avaliação para o seu projeto de Formação para o Mundo do Trabalho (FMT) – que engloba uma série de cursos gratuitos, presenciais ou remotos, oferecidos em todo o país para o desenvolvimento de aptidões técnicas (hard skills), comportamentais (soft skills), senso crítico e noções de empreendedorismo entre jovens de 14 a 22 anos de idade. O monitoramento de impactos do FMT teve início em setembro de 2023, e a sua metodologia, bem como os achados obtidos até abril deste ano especificamente nos cursos online, foram abordados no 29° CIAED – Congresso Internacional ABED de Educação a Distância, realizado em setembro em Brasília. 

Com base no modelo Kirkpatrick, o monitoramento compara autoavaliações dos jovens para diversos atributos e em dois momentos: antes e após a conclusão dos treinamentos. No tocante às soft skills, as maiores evoluções relatadas pelos jovens foram verificadas nas afirmações “Conheço minhas habilidades profissionais” (avanço de 18% entre as médias de notas iniciais e finais), “Tenho segurança para participar de uma entrevista de emprego” (17%) e “Reconheço quais habilidades profissionais devo aprimorar” (15%). Já entre as hard skills, os principais incrementos se deram nos campos “Sei utilizar computadores para editar apresentações, fotos e vídeos” (18%), “Sei utilizar computadores para editar textos e planilhas” (14%) e “Sinto-me preparado a ingressar no mercado de trabalho” (11%).

Os resultados evidenciam que os impactos mais consistentes do projeto se referem, de um lado, à compreensão que os jovens am a ter das suas capacidades e dos pontos em que podem melhorar. Por outro lado, indicam a importância do letramento digital para uma geração que, embora conviva intensamente com a tecnologia, pode ser estimulada a ampliar a familiaridade com a informática corporativa.

Além de fornecer dados para a prestação de contas a empresas, organizações parceiras e a toda a sociedade, o monitoramento de impactos é uma referência para melhorias do projeto, com a busca de medidas educacionais mais eficientes e o atendimento a novas demandas sociais de qualificação e profissionalização. Num país em que 24% da população de 18 a 24 anos não têm o ao trabalho e aos estudos, conforme apontam dados recém-divulgados pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), enriquecer o itinerário formativo das novas gerações deve estar no radar de todos nós.

*A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião do Observatório do Terceiro Setor.

Sobre as autoras:

Lidia Maria Bufolo é economista e mestranda em CTS pela UNICAMP, especialista em Ciência de Dados e analista de Inteligência de Mercado no Espro.

Ana Karina Sousa é formada em Comunicação Social pela Unesp, pós graduada em gestão e inovação em EaD pela USP, designer educacional e coordenadora de conteúdo e inovação no Espro.